29.8.06

Estamira


Hoje finalmente assisti Estamira.
Duas coisas eu posso dizer, de imediato.
Primeiro a fotografia. Acho que é a fotografia que abala antes de mais nada. No início, as imagens do lixão são feitas num P&B granulado, uma imagem opressiva, a imagem do lixo, o lixo que produzimos, produzimos, produzimos...
Depois, as imagens da própria personagem, o rosto, as rugas, as unhas, o corpo machucado pela história de vida, como se ficassem marcadas no corpo todas as experiências violentas pelas quais ela passou. Como se ficasse? Fica.
E como não refletir o feminino, ao assitir Estamira? Pensei no quanto a mulher carrega no corpo as suas marcas. Sente no corpo, é violentada no corpo. A violência que a personagem sofre é uma "versão" brutal da violência pela qual passam muitas e muitas mulheres diariamente. O estupro é a versão brutal daquela conhecida violência cotidiana, nos ônibus, no metrô, nas ruas, quando alguns homens insistem em mostrar o quanto podem ser covardes.
Ao mesmo tempo, com tantas marcas, a personagem tem uns flashs de lucidez incríveis, sobre o trabalho que não deve ser sacrifício, sobre o deus que ela nega, sobre o mundo ao contrário. Um filme e tanto, minha gente.
Falta fazer a menção merecida ao trabalho de direção e de toda a equipe, porque, sinceramente, filmar num lixão não deve ser mole.

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