18.9.06

Conversando com o amigo e o ex-namorado que moram em Londres há alguns anos. Eles me dizem que não há preconceito contra negros na Inglaterra. Um deles é branco: aquele que afirma com mais veemência. O outro, negro, disse que nunca foi discriminado. Eu digo que, sinceramente, acho estranho, mas enfim, mal saí de São Paulo na minha vida, como vou falar da vida em Londres? Aí então falamos de racismo no Brasil. Meu amigo negro diz que o problema aqui é social, e não de cor. Eu pergunto qual a cor da maioria da população afetada pela questão social. Ele diz que nunca se sentiu discriminado no Brasil. Eu me recordo de uma historinha, mas prefiro encerrar a conversa por ali ao invés de lembrá-la.
Com vocês, a historinha:
Quando eu era adolescente, sempre voltava da escola com o meu amigo negro, que morava numa rua um pouco acima da minha. Ele me acompanhava e depois seguia sozinho, e naquele dia eu fiquei no portão, enquanto ele continuava a subir a avenida da minha casa. Um quarteirão acima, olho e tomo um susto: ele estava sendo revistado por policiais, “tomando uma geral”, como a gente falava na época. Depois do constrangimento de ser parado numa tarde ensolarada numa rua pacata de um bairro de periferia, meu amigo leva um tapa na cabeça, e os policiais o mandam seguir. Naquele dia eu sabia que se tratava de racismo, porque ele era um garoto negro de periferia. Eu sabia que aquele tapa era uma arbitrariedade. Aquela cena me chocou e eu nunca esqueci. Nem nunca tive coragem de contar a ele que eu vi.
Quem era ele? O amigo negro que hoje mora em Londres.

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