Lição de casa
Eu disse para ela que ia escrever sobre o B*lsa Família. Mas acontece que depois que defendi o mestrado eu não quero mais pensar. E para escrever eu queria pensar e pegar uns dados, e comparar o investimento em política social no governo Efeagá e no atual governo, mas nossa, não sou capaz nesse momento. Porque eu acho importante, para marcar a diferença entre o governo de direita do Efeagá e o nosso governo, mostrar a importância que cada um dá à política social. Importância em números, antes de mais nada, porque eu encaro isso como uma questão de classe. Priorizar política social é um enfoque de classe, numa clara opção por direcionar investimento à classe que mais cresce em tempos de expansão do capitalismo flexível.
Então eu li o último post dela. E ficou clara uma coisa que eu não ia dizer mas vou, mesmo que seja besteira. B*lsa Família, para mim, é uma ação afirmativa como a política de cotas. No entanto, ao invés de atingir a questão do racismo, atinge a questão da pobreza. É uma resposta, um dever para com os miseráveis desse país, com os nordestinos vitimados pela indústria da seca, com os milhares de trabalhadores pauperizados em anos e anos de exploração.
Isso é o principal, nessa minha proposta de falar do B*lsa Família sem fazer grandes referências a dados nem a estudos que vêm se desenvolvendo sobre os alcances e limites do programa. Porque tem muita coisa para aperfeiçoar. A principal, é que o Bolsa Família se torne o Renda de Cidadania, ao fim e ao cabo. E aí tem uma importantíssima distinção a ser feita, sobre a política social no governo de esquerda.
Nunca é demais lembrar que o carro chefe da política social no governo Efeagá foi a C*munidade Solidária, programa que pretendia responder às mazelas da questão social brasileira via solidariedade privada, responsabilidade social empresarial, voluntariado. Nenhuma ênfase no direito, muito pelo contrário: esse programa encarnava muito bem a proposta neoliberal de enxugamento de responsabilidades sociais, transferindo-as à iniciativa privada via discurso de responsabilização moral.
A ênfase do B*lsa Família, no entanto, recai sobre o direito. O direito que o cidadão tem de ser assistido pelo Estado, seja através do pagamento de bolsas que complementem sua renda, como é o caso dete programa, seja através de cotas que respondam à enorme dívida social para com os negros. A idéia é a de que o Estado tem deveres para com esse cidadão - o projeto de Suplicy, Renda de Cidadania, recai todo sobre a idéia de direito. O direito à inclusão. E a inclusão é, como ela também já lembrou muito bem, uma marca importantíssima de diferença num governo de esquerda.
Mary, sobre conscientização popular, para você gostar ainda mais da Marta. na gestão dela, eu trabalhei num projeto de geração de renda, com trabalhadores com mais de quarenta anos da periferia. E sabe qual era a primeira "lição"? Uma aula sobre transformações no mundo do trabalho, para que eles pudessem entender por que os governos não eram capazes de gerar emprego. A gente discutindo mais valia com os caras. Por isso eu acredito nesse partido, por isso eu acho que nós temos sim um projeto de esquerda.
6 Comments:
kellen, não achei nada de panfletário no teu post. você, como sempre, arrasou total. eu também fico com uma cara meio de b* quando ouço as pesoas falando mal do bolsa família, mas não tenho argumentos pra contrapor, embora saiba que o infeliz que mete o malho tá falando bobagem. essa ênfase que você deu na questão do direito realmente é o que faz toda a diferença na minha modesta e leiga opinião. bj
Adorei o post nesse dia 1 de outubro antes de votar!
É isso mesmo.
Adorei o blog!
grande abraço
Há uns tempos atrás eu dizia "foda-se que se o PT ta fazendo jogo sujo lá em cima: o FH também fez. Mas pelo menos o PT tem um enfoque social". Eu ainda não fui votar (é hoje, domingo) e to pensando em anular porque esse meu argumento é o típico "rouba mas faz". Mas é claro que você me deixou balançado. Belo post: porque esse governo tem realmente muitos pontos positivos e isso eu nunca neguei.
Belo blog. Às vezes é cansativo sair explicando isso pelas conversas de buteco, sempre tem um que não quer entender. É bom ver que existem pessoas que pensam como a gente. Valeu.
Só uma coisa me incomoda, ainda: Tudo bem, admito a dívida com os negros. Mas acho, sinceramente, que a política de cotas não é, de forma nenhuma, o melhor caminho. Me lembra, inclusive, a escola plural, que depois de quase 10 anos aqui em MG, só comprovou o que eu já desconfiava: piorou o que já existia.
Concordo com tudo que vc disse sobre o b*lsa família, mas não consigo compará-lo com o sistema de cotas. Acho que o mais justo e sensato seria dar educação a esses jovens, seja por cursinho popular, seja por subsídio da mensalidade, sei lá, não cabe a mim agora elaborar propostas. O que eu sei é que não adianta "botar" o jovem lá na faculdade, tem é que fazer esse jovem ter condições de ser aprovado no vestibular. Dizem que as cotas é só um paliativo... mas não consigo acreditar que a mudança necessária vá efetivamente acontecer. Na UFMG as cotas ainda não foram implantadas pois a reitora no ano passado não permitiu. O atual reitor, acredito e espero eu, também não vai aceitar.
Sou negra, vim de escola pública faço engenharia na UFMG, entrei sem as cotas, e tenho muito orgulho disso.
Quanto ao resto do post, concordo com tudo que vc disse.
desculpa, desculpa, mas...
A- O Peti e o Bolsa-Escola eram o que no governo de efeagácê?
B- O que você acha do Acêeme(sim, esse mesmo) ter sido o puxador da emenda do "fundo de erradicação da pobreza"?
C- O que você acha dessas propostas de renda mínima serem defendidas por figuras como Friedman?
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