3.10.06

A locadora da minha rua é imperdível. Assim como a maioria dos estabelecimentos comerciais daqui.
Quando me mudei, quase detestei o lugar. Só pensava na ladeira que liga minha rua à av. paulista, e minha preguiça me impunha uma tristeza profunda, preguiçosa que sou. Mas aos poucos fui conhecendo os estabelecimentos comerciais. Nossa. E eles são um show à parte.
A locadora é um deles. Um pardieiro. Incognoscível. Porque os filmes ficam expostos numa ordem própria. Que ordem? Vá saber. Hoje mesmo achei "O sétimo selo" ao lado de uma comédia americana tipo "American Pie". Mas sabe que me diverti com isso? Porque na locadora do bairro que eu morava (totalmente classe-média-arborizada de São Paulo), tinha um espaço intitulado "filmes cult". Claro que tinha, ora, ora. Porque a gente tem que dizer que o filme é cult, né? Tem que explicar para o povo que é. E Bergman e American Pie juntos é tão foda-se pra isso. Coisa bonita, merecia uma foto.
Aí eu saio da locadora e passo no mercadinho. Tem uns quatro aqui na rua. Mas dois deles com mais cara de mercadinho mesmo, os outros dois são botecos que vendem leite. Adoro. Porque no bairro que eu morava tinha aquele, a Suécia Brasileira. A sensação da classe média, vocês sabem, né?
E os mercadinhos daqui são um show à parte. Um deles tem frango assado no fim de semana. E eu fui criada num bairro que tinha frango assado no fim de semana. Não como o frango, mas adoro saber que tem. Como dizia minha avó, cada um, cada um.
Esse, que eu passei, é do ladinho mesmo da locadora. Prefiro o outro, do frango, porque o dono agora compra coca light lemon, porque eu sempre procurava, veja que fofo. Mas minha preguiça, sacomé. Fui nesse, do ladinho. E o dono é mais novo, tem duas filhas pequenas, ficam lá ele, esposa e meninas. Uma é bebê, fica num chiqueirinho, bem instalado no meio do mercadinho. Foto, foto. Merece. Só que hoje eu acho que ela aprendeu a pular. Porque se eu não entro naquela hora, exata, a pequena saía para a rua. Sim, peguei a menina, entreguei para o pai. Vizinhança, né, minha gente. Adoro.
Aí voltei para casa, de posse de Manderlay. E, bom, devo dizer: caraleo. Porque eu vivi uma experiência que me causou tanta identificação com a Grace. Muita. Acho que esse filme deveria ser visto por todos os meus colegas, que tiveram a mesma experiência. Ou não.
Porque eles continuam lá. Dando continuidade à experiência. E eu fugi, faz uns anos, rumo ao norte. Para a academia, a ciência política. E o que eu gosto em Lars Von Trier, é que no final, quem tem razão?

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