28.2.07

Hoje eu passei mal a tarde toda. Um enjôo, galera. Mas muito forte mesmo. Dorzinha de cabeça também. Aí ligo para o Brasil, no melhor estilo vou contar tudo para a minha mãe.
Ela acha que é emocional. Com legitimidade de quem lembra que eu sempre estranho comida, desde pequena, e sinto as coisas no estômago. Minha mãe e seu esoterismo sagitariano.
Meu pai acha que eu estou com cólera, malária, tuberculose, e que é para eu pegar o primeiro avião de volta pro Brasil.
Minha prima, que é médica, acha que não sabe. Que eu deveria procurar um por aqui.
Eu acho que vou abandonar meu protocolo e tomar um plasil.

*E as peculiaridades não acabam nunca mais: eu pergunto,
vocês têm abacaxi? o garçom responde: tem, mas não está bom.

27.2.07

E dando continuidade à série Beira e suas peculiaridades, eis que hoje no restaurante do hotel teve música ao vivo. O músico canta Garota de Ipanema com sotaque moçambicano, e eu acho peculiar, veja só. Mal sabia que a próxima música seria interrompida pelo celular dele: sim, minha gente, o cidadão parou de cantar para atender ao celular. E para arrematar, em seguida cantou "Trem das Onze". Jantando num hotel em Beira, ouço: "moro em Jaçanã...".

Adendo


Para que o final do post anterior faça sentido, já que é uma piada interna: o nome da marca do preservativo aqui é jeito.

26.2.07

"drume negrinha
que eu te transo
uma nova caminha
que tenha gosto de ocê..."


E eu continuo aqui, na luta com esse relatório sem fim*. Porque eu nem vou contar procês da dificuldade de pensar em pesquisa de mercado aqui em Moçambique, visse?
Hoje, na verdade, a dificuldade é de pensar, de maneira geral. Porque logo cedo, um enjôo foi o abre alas do dia mais enjoado dos últimos tempos. Daí rolou uma tontura básica também, e agora resta só um bocadinho de dor de cabeça. E dor nos ombros, diga-se de passagem. Sim, sim, tenho passado muito bem por aqui, obrigada.
Por conta disso, hoje o cozinheiro preparou um purê de batatas com peixe grelhado. Descobri também que é possível até arranjar um tofu no restaurante chinês. Mas tem que esperar o dito cujo abrir, pois está fechado durante o mês de fevereiro. Sabe-se lá por que cargas d'águas, mas enfim, esperar aqui não é coisa tão incomum.
Aí M. perguntou ao cozinheiro quais eram os tipos de verdura que eles têm, para ver se conseguimos variar um pouco o cardápio e tal. Eis então que ele responde: ah, tem lasanha...
E assim vamos estabelcendo nossa comunicacão por aqui!
Da série Beira e suas peculiaridades, temos aqui um bairro que chama "Chota"**. Pois é. Mas não sei se eles ligam o nome à pessoa.
Além de Chota, tem os nomes das pessoas. Alface (o recepcionista do hotel), Remédio (esse alguém aqui ia entrevistar, o Sr. Remédio), Balde (que eu mesma vi com os meus próprios olhos). Dizem que tem a Sra.Mesa, o Sr. Castigo, e por aí vai. Dizem também que os portugueses davam esses nomes a eles, por pura maldade, é claro. Dizem muitas coisas por aqui, como não poderia deixar de ser.
No mais, meu inconsciente resolveu abrir a caixa de pandora, e de novo, tive altos sonhos essa tarde, um deles tive mesmo que escrever para analisar depois. Mas eu nem posso contar procês.

*vejam que nem em outro país eu mudo o disco: é sempre a mesma ladainha, tem sempre um relatório pendente a fazer...
**no jantar, olhávamos o mapa de Chota e um dos meninos comenta que é sempre difícil encontrar o acesso à ela. Há controvérsias. Porque se procurar com jeito, encontra-se.

24.2.07

"o no quiero que pienses tanto, cumbiera intelectual
Yo voy a rezarle a tu santo, para que seas más normal
Para que te puedas soltar...
Cumbierita, cómo la quiero...!"
Kevin Johansen

Então a uol decide que não posso ler meus e-mails, desde não sei que horas que não consigo acessar a página. O que resta é fazer o relatório que trouxe pendente do Brasil, e o prêmio a arte de procrastinar vai para quem mesmo? Si, si, essa que vos escreve.
A dificuldade com a comida continua, parece que tomei um porre de tão estranhas que estão as coisas aqui por dentro. Mas não tomei porre não. Só uma cerveja. E aí eu preciso contar que outro dia fomos a um bar e eu perguntei para o garçom do que era feita uma bebida tal, e ele responde que era leve, para mulher. É, minha gente. Não vou nem dizer nada parte 54675. Porque hoje eu pedi cerveja no quarto, fico pensando no que o "seu faz favor"* fica a pensar.
No mais, depois do ciclone sempre vem a tempestade. Aí eu dormi à tarde, e sonhei muito, vários sonhos entrecortados. Fazia tempo que eu não sonhava. Altos sonhos, visse?
E eu não podia deixar de contar que hoje os meninos suportaram bravamente M. e eu cantando, numa viajem de duas ou três horas, nem sei. Mais que cavalheiros, são homens realmente valentes!

*é o garçom, que a gente tem que chamar assim. já contei, né? tou ficando repetitiva.

23.2.07

Beira

"cada negro olhar, sangue de África
centro de aldeia, bandeira, nação, zanzibar
da mesma veia guerreira do povo palmar
tudo palmeira de Beira de mar..."

Cidade da Beira. Onde estou há dez dias, trabalhando com entrevistas, o que me permite dizer que já é possível conhecer um bocadinho das pessoas e da cidade.
Beira está localizada na costa de Moçambique, e é uma cidade portuária - escrevo esse post olhando para o porto, inclusive. O porto e o cair da noite, é uma bonita imagem. É a segunda maior cidade do país, já tendo sido capital. Mas eu não sei quando, e nem vou procurar por isso agora. Preguiça.
Temos notícias, também, de que Beira foi uma das cidades mais atingidas pela guerra civil. E isso é absolutamente visível quando passeamos por aqui. Como diria Caetano, aqui tudo parece que é ainda construção, mas já é ruína.
O que me impressiona é a carência de infraestrutura na segunda maior cidade do país. Alguém me perguntou se a pobreza por aqui choca. Bom, se não chocasse, algo de muito errado estaria a acontecer, não? Então choca, é claro que choca. Mas não vamos esquecer dos rincões do Brasil. Da periferia da periferia da minha cidade. É diferente, sem dúvida. Mas igualmente chocante.
Acontece que em Beira, não é preciso rodar mais que cinco quilômetros para encontrar um bairro onde não há água: apenas fontanários, onde as pessoas pegam água em baldes. E muitas vezes andam muito para fazer isso. Por aqui vemos também muito lixo pela rua; e o problema de saneamento é gravíssimo, agravando muito as epidemias que assolam a população.
Chocante também é o índice alarmante de contaminação pelo HIV: 35% de infectados no município. E soma-se a esse desastre a falta de um sistema estruturado de saúde pública: a assistência é feita em sua absoluta maioria por ONGs estrangeiras. É verdade que há um Programa Nacional de Prevenção, mas ora, na cidade mais afetada do país, não há um programa efetivamente governamental de atenção. Não, aqui não tem SUS, mesmo com toda e qualquer crítica que possamos justamente lhe fazer.
No mais, nos habituamos aqui a dizer que estar em Moçambique é como voltar ao Brasil da década de oitenta. As roupas, os utensílios, as músicas até. Durante a guerra, o país como um todo e a cidade da Beira em particular, sofreram uma grande estagnação, impressa em todas as formas e cores por aqui.
Mas Beira não é apenas tristeza, de forma alguma. São lindos sorrisos largos, como as forma do rosto dos habitantes daqui. São muitas cores vestindo as mulheres, com suas capulanas, com as quais também amarram seus filhos a si. São pessoas que sorriem ainda mais intensamente quando digo que sou brasileira, e me oferecem suas histórias, para que eu não me esqueça nem por um minuto que aquilo tudo que eu sei ainda é pouco, muito pouco.

22.2.07

Então aquele moço lindo, que aparentemente nunca te deu bola em território nacional, resolve lhe confessar, pelo msn, umas cositas assim, inconfessáveis até então. E eu esperando um ciclone em Moçambique, como a vida é inédita, não?
"afagar a terra
conhecer os desejos da terra
cio da terra
propícia estação..."

Bom, temos por aqui muitas cositas para contar. Por exemplo, a conversa que tive com uma autoridade tradicional. Que eu conto logo mais, vamos agora às amenidades.
Estou no quarto, e olhando pela janela, uma ventania daquelas que faz barulho, sabe? É um ciclone que se aproxima. Já falaram por aqui em todo tipo de velocidade que o vento pode alcançar, mas como não temos certeza, deixa pra lá esse detalhe. Registremos apenas que estou num quarto de hotel minúsculo - e a gerente do hotel disse para não ficar perto da janela quando o ciclone chegar, penso então em me esconder no banheiro - a espera do dito cujo. Previsão de que comece às oito da noite. Porque aventura pouca é bobagem.
(vale um parênteses para dizer às amigas que lêem esse blog que não fiquem preocupadas, porque isso não é coisa tão incomum aqui. no final não há de ser nada, ok?)
Além de ciclone, devo informar que ontem servi de banquete para mosquitos. Não tinha acontecido ainda, por causa daquela coisa toda do repelente e tal, mas ontem eles foram mais fortes. Isso significa que estou cheia de picadas e coceira (tenho alergia, só para ajudar). Acho que esses são mosquitos que curtem sangue de gente mal humorada. Porque ontem, nossa. Nem eu me aguentava.
Aí ficava me perguntando, mas K., minha filha, o que aconteceu?
Acontece que eu passo o dia entre hotel e lugares onde realizo entrevistas (que às vezes são legais e às vezes não são, como qualquer outra coisa). Com isso não caminho quase nada que não sejam as escadas (que eu quase não uso mais o elevador, para ao menos escadas subir) e corredores do hotel. E isso me chateia um pouco. Aquilo de ar puro, ver o céu e a rua e enfim. Sinto falta da minha casa e da minha rua, e da minha cozinha. Meus deuses, como sinto falta da minha cozinha.
Porque comida de hotel é aquilo, né? Gostoso e diferente nos primeiros dias, e insuportável quando você decora o menu e tal. Nada de banchá, nada de suco de casca de abacaxi, nada de ovomaltine com torrada e requeijão (o café da manhã é cheio de muitas comidas, mas e se eu não como isso no café da manhã, como fica?). Nada daquele espaguete-receita-minha, com molho de tomate pelado bem pedaçudo.Nossa, até disso eu sinto falta. E assim vamos caminhando por aqui.
Sinto falta de cantar também, mas ontem esqueci que podia ter gente me ouvindo e cantei um bocado. Pois é, minha gente, hoje é dia de reclamar.
Porque é claro que a experiência aqui é fantástica. Muito mesmo, nem posso mensurar. E a equipe com a qual trabalho só tem gente massa. E todo mundo é bacana e tudo mais. Mas que tenho sentido uma falta enorme de casa, isso também é bem verdade.

21.2.07

No aeroporto, as recomendações da minha mãe: cuidado com o sol, com a comida, com os mosquitos, com tudo e mais um pouco.
A única recomendação do meu pai: filha, se esforce para ficar quieta. Digamos que ele me conhece muito, mas muito bem.

18.2.07

Então a paulistana e o carioca, depois de um dia de praia e sol na cachola, resolvem mostrar o quanto conhecem o nordeste brasileiro. Como esnobação pouca é bobagem, os dois resolvem mostrar seus conhecimentos cantando:

"Teresina, Juazeiro, Juazeiro, Teresina
Todas duas eu acho uma coisa linda
Eu gosto de Juazeiro
e adoro Teresina"

Felizmente a representante nordestina nos corrigiu: Juazeiro faz divisa com Petrolina, e por isso a música. Tsc, tsc. Olha nóis falando m*erda em Moçambique.

16.2.07

Hoje passei o dia escrevendo posts mentais. Porque é muita novidade, principalmente no que diz respeito ao sistema político daqui. Diferente demais, haja alteridade por parte dessa humilde cientista política que vos escreve.
Então eu vou situá-los sobre história de Moçambique, muitíssimo mal e porcamente. O país foi colônia de Portugal até 1975, instituiu um governo socialista logo em seguida, aliado ao bloco soviético, aí depois de alguns anos (acho que quatro), entraram em guerra civil, que aqui chamam desestabilização. A guerra se deu entre o partido socialista e o partido de oposição, que tem no nome resistência (ao regime socialista). Se o estado de uma recém-colônia é aquele que a gente sabe, imagina depois de uma guerra civil. Que acabou há apenas 15 anos. Captaram?
Pois muito bem. Esse país passa por todo tipo de precariedade que vocês possam imaginar. Saneamento básico? Não tem. Sistema de saúde pública organizada? Pelo menos aqui na cidade onde estou agora (a segunda maior do país), não tem. A porcentagem da população contaminada aqui na cidade: 35% (diagnosticada, veja que pode ser muito mais). Um número absurdo de crianças órfãs. E diante disso, olho para o Brasil e a visão embaça, veja bem.
Hoje uma pessoa muito simpática e guerreira, com quem conversei aqui, me disse que gosta muito do Lula, e que tem muito orgulho de Moçambique ser um país-irmão do Brasil (gente, incrível como as pessoas falam do Lula como se o conhecessem pessoalmente). Aí eu fiquei o tempo todo pensando: cara, nós elegemos o Lula. Não tem comparação, realmente não tem.
(pausa para passar o repelente e querer sair correndo de mim mesma. A. canta uma musiquinha para esses casos: não se repila, não se repila!)
Giloca, ouvi música aqui, no rádio do carro. Ouvimos música local, era um ritmo meio brasileiro, parece que imitava o axé, inclusive na letra ("olha como ela mexe", coisa assim), mas mesmo assim a letra era mais inocente, se é que me entendem. E ouvi também Roberto Carlos. E um bocadinho só de música Sena, que é um dialeto falado nessa província em que estou (província equivale ao nosso estado). Agora tá tocando "say you, say me", num volume não muito apropriado para o horário. Bem na minha janela, devo dizer.
E por falar em janela, eu queria postar uma foto do por do sol daqui da minha janela. E umas outras também. Mas a conexão tá low, very low.

14.2.07

Eu escrevi um post e apaguei, sem querer. E agora tenho que dormir porque acordei às sete da matina. Eu disse s-et-e. E amanhã de novo, vamo lá.
Mas deixa só eu contar que manchei a camisola com methiolate. Porque minhas unhas estão realmente machucadas. E que assunto mais apropriado quando meus queridos leitores estão a esperar* notícias fresquinhas de Moçambique. Mas reparem só como eu tenho tido ataques de mulherzices por aqui. Lembram que eu disse que uma meta em 2007 era eu me tornar uma mocinha? Além de trabalhar, acordar mais cedo. Nossa, nem terminamos o segundo mês do ano e eu estou a mil. Tem aquela meta de voltar ao meu peso. E pra isso talvez eu precise parar de comer camarões gigantes, com batata frita. E refrigerante. É, talvez.
A coisa do refrigerante é complicada. Porque a água aqui é um problema, não tem tratamento. Então não dá pra pedir suco natural. O suco industrializado tem muito açúcar e eu não consigo tomar. Tem aqui um suco (que chama sumo) de mistura, e eu ainda não sei mistura de quê.
O mamão daqui parece não ser bom. Meio duro, saca? Mas a manga é boa. O abacaxi eu achei que tava meio passado, mas não sei se é assim mesmo.
Repararam que agora tem acento? Graças ao economista da comunidade**. O povo aqui sabe tudo de informática, gracias. Porque eu, bem. Aquela precariedade que todo mundo sabe.
Outra coisa complicada: repelente. Tem que passar toda hora. Por causa da malária, e ainda estamos em época de chuvas. O repelente tem que virar uma extensão do corpo. Mas, minha gente. O negócio chama repelente não é à toa, né? Que ninguém aguenta ficar perto, que coisa mais horrível. Agora mesmo me melequei toda e quis sair correndo pelo corredor, o quarto ficou impestiado. Como sair correndo de camisola manchada de methiolate não é, assim, muito apropriado, estou aqui, espirrando com o cheiro do negócio. Cobre um santo e descobre outro, vamo que vamo.
E vamos finalizar dizendo que não é possível fazer uma refeição aqui em menos de duas horas. Porque realmente tudo demora horas. Pra pedir. Para o moço (que aqui não é moço, nem garçom. Não sei o que é, mas para chamar a gente tem que dizer "faz favor") dizer que infelizmente não tem esse prato. Pra vir o prato então. Meus deuses, aí é uma vida. E depois para trazer a fatura, etc e tal. Querida amiga dona de casa, não reclame do serviço em São Paulo, é o paraíso.
E por falar em São Paulo, uma rapidinha sobre o Brasil. Quero declarar meu repúdio à essa história de voltar à pauta a discussão sobre maioridade penal. Que tal discutirmos maturidade institucional e social? E já que começamos, quero dizer que fiquei feliz que senti até um quentinho assim no peito quando vi o resultado do referendo sobre aborto em Portugal. Muito bom mesmo.
E não é que saiu um post?
*vou escrever em itálico as expressões usadas aqui, tá?
** a comunidade é formada por essa que vos escreve, A., que é economista, M., que é arquiteta e D., que é demógrafo.Gente boa demais, devo salientar. Pra vocês tomarem conhecimento.
***A. tira fotos lindas. Tem uma muito bacana, no cemitério de navios, e eu vou pedir a ele para mostrar procês, tá? Então tá. Tchau.

12.2.07

p.s. re, nao comprei melissinha, queria vermelha e nao tinha. mas chegando aqui descobri que tinha que ter comprado bota, saca?
e sobre vomito die indie die, eu morro de rir!hahaha
Mulherada do meu Brasil, tudo bem na depilacao. Nao fui vitima de nenhum modelo africano de depilar, beleza, tah tudo certo por aqui.
Mas foi bem bacana conversar com a depiladora. Que adora novela brasileira (ela adorou America, que foi a unica que eu nao vi um capitulo, que saco). Eu ateh quis emendar um papo sobre Chocolate com Pimenta, mas nao rolou, o negocio era America.
E entao eu pude saber um pouco sobre a mulher mocambicana. Que de cara ficou impressionada por eu nao ter namorado. Disse que eu era gostosa, veja soh. E no auge da minha tpm, obrigada, obrigada. Ai disse tambem que nao acreditava porque as brasileiras sao namoradeiras: "voce nao aproveita a vida?", ela perguntou. Nao vou nem falar nada, viu? Tah bem evidente, tah nao minha gente?
Entao ela me disse que os homens por aqui fazem as mulheres sofrer. Que ela acha que as brasileiras sao mais felizes, e que os homens brasileiros sao melhores. No sentido de menos machistas, acho que era isso. Entao tirem suas proprias conclusoes. Foda foi quando ela perguntou se a minha vida era como na novela. Eu querendo dizer que nao, gracas a Deus. Mas a novela eh todo o sonho, saca?
S, perguntou pra que depilar, neh? Porque eu pretendo ir a praia, hohoho. Depilei no shopping, tinha que ser um lugar perto do trabalho. Bom, S. perguntou varias coisas. Vamos comecar pela comida. Pequeno almoco eu tenho comido pao integral com geleia e cha. Bem normal, neh? Mas o pao integral aqui no hotel eh bem comum e gostoso. Almoco como peixe (garoupa), camarao, hoje pedimos uma carne e eu nao gostei, ah, acho que eh isso. Jantar igual, mas jah pedimos crepe de atum, prego no pao (carne, molho e pao) e soh isso.
Comprei um Mia Couto hoje, edicao mocambicana, visse, S.? E toda hora eu digo para os meus colegas que voce gosta dele. O sabonete liquido custa mais caro que o livro (nao que o livro custe barato), fiquei passada com isso.
Comprei anticoncepcional tambem, porque nao queria menstruar, mas jah me arrependi. Acho que nem vou tomar, que saco. Que mais? Ah, nao liguei o radio. Ouvi musica sul-africana no aviao, soh. E ontem vimos uma rave ambulante. Foi a brancadeira que nosso colega fez, com uma lotacao que balancava muito e tocava uma musica muito alta.
Hoje eu passei meu primeiro panico aqui, uma historia de que vamos a uma regiao de porto e tem rato, e eu tenho fobia de rato. Pois eh. Rato tem em qualquer lugar, neh? E eles nem fazem nada. Vou repetir isso ateh acreditar.
Ai amanha vamos para Beira. As cinco da manha. Aqui tudo eh cedo, e eu nem vou falar nada parte II. Que todo mundo sabe, tambem, que isso no meu mundo eh um problema. E grave.
*minha gente, e os arquivos, meus deuses? onde esse blogger meteu (aqui eles falam assim) meus arquivos???

11.2.07


Como jah eh sabido por voces, eu sai do Brasil correndo que soh. Entao nao deu tempo para cortar o cabelo no lugar de costume. E serviu para eu descobrir porque pago mais caro, tanto pelo cabelo quanto pela unha. Porque o cabelo, se nao tah horrivel tah longe de ter ficado bom. E a unha da mao, Jesus. Uma calamidade.

Mas entao eu venho para Mocambique e fico falando de cabelo e unha, francamente. E ainda sem acento. Eu sei que eh foda minha gente, vou tentar resolver isso. Entao, mas falei de cabelo e unha pra contar que amanha vou fazer depilacao aqui. Vejamos, depois conto as peculiaridades (oh, my, espero que nenhuma, na verdade!).

Ainda nao sai para o trabalho de campo. Na verdade, nem andei muito pela cidade, porque trabalhamos todos os dias (teve reuniaozinha no dia em que chegamos, eu dormindo total, mas enfim. trabalho de verdade, e eu nem tou acostumada com isso, que todo mundo sabe).

Que mais? Ah, entao por isso nem sai muito. Mas jah vi que tem uns panos por aqui. Meus deuses. Aqueles assim de colocar na parede, saca? Imagina os tecidos das roupas? Socorroooo.

Camarao aqui eh comum, jah contei? Hoje comemos uns enormes. Nao entendi direito como funciona o cambio, entao nao sei bem se eh caro, mas eu acho que sim. E, olha soh: eu ainda estou na melhor parte da capital do pais, nao dah pra ter muita nocao. Mas semana que vem vamos para Beira, onde vai rolar o trabalho de campo.

Acho que se continuar comendo em hotel vou ficar gorda (mais, nao posso!). Mas tambem vou andar muito por essas quebradas.

Tem ai uma foto que eu tirei quando estava chegando, caminho do hotel, mas nao eh perto daqui. Aqui pertinho nao vi esgoto. Soh lixo, tem bastante. Quando voltavamos do almoco, comecou ventar muito mesmo, e o lixo, voando, neh? O tempo todo a gente vai percebendo que o pais estah em construcao mesmo, poxa, sao apenas 31 anos de independencia minha gente. E eu sempre acho que 184 anos sao pouco, enfim. Imaginem por ai que estamos 133 anos na frente.

Almocei num lugar que chama Jardim dos Namorados, achei so sweet. Que mais? Ah, sim: sono. Que eu acordei cedo pra trabalhar, no domingon. Porque eu disse que esse ano eu queria trabalhar, lembram? Quer, tome.

10.2.07

Maputo

Terceiro dia em Maputo. Hoje ja tenho um lap top, e entao eh possivel escrever. Mas sem acentos, vejam bem.
Entao pensei que posso escrever a qualquer hora. Mas postar somente quando a internet funcionar. Nao, nao eh sempre que isso acontece.
Mas vamos la. Cheguei na quinta na Africa do Sul, as sete da manha. Morta de sono, porque no Brasil eram duas da manha, exatamente a hora em que eu iria dormir.
Ai andamos um pouco pelo aeroporto (meus colegas andaram, eu me arrastei) – que eh enorme, super hight tec, meio coisa de primeiro mundo. Quando vi aquele aeroporto logo me lembrei do aparheid, mas enfim, tem um super duty free, uma loja de coisas nativas que eh a coisa mais linda, de tao colorida, e o melhor: um restaurante-cafe que tem uns sofas. Ai, eh claro, desmaiei por lah mesmo. Eu dormi umas duas horas, minha colega dormiu mais duas, revezando pra olhar a mala. E ainda serviam um cha de camomila tao gostoso. Dai jah foram quatro das sete horas esperando o voo para Maputo.
Entao voamos para Maputo, finalmente. E a essa altura, eu jah nem sabia mais quem era. Jah estava dormindo em pe, de olho aberto. Mas deu pra ver que o aeroporto de maputo parece o aeroporto de Porto Seguro. Que se voce nao conhece, eu digo que tem duas esteiras apenas para pegar a mala, enfim, eh tudo antigo mesmo, e pequeno. A sala da imigracao tem uma maquina de escrever. E a alfandega eh uma salinha. Soh me perguntaram se eu havia feito compras, e me disseram bem vinda a Maputo, ninguem olhou minha mala nem passamos por raiox, nem porta de seguranca, nem nada (mas na Africa do Sul quiseram abrir minha mala de mao, e tiraram meu monte de shampoos, remedios, etc e tals. Absorvente interno pulou da bolsa mega cheia, uma beleza mesmo). Achei muito diferente e deu pra ter uma dimensao da diferenca de cara – mas o sono era muito, entao eu nao fotografei. Da pra sacar tambem que sao muitos os resquicios do tempo em que Mocambique era um pais aliado ao bloco comunista – alem da coisa toda da Guerra Civil pela qual passaram e tal. Bom, se a experiencia de conhecer um pais da Africa jah eh por si soh incrivel, imagina quando esse pais eh ex-comuna. Noooossa. Me aguardem.

*So uma curiosidade: Maputo tem fiacao subterranea. Mas em muitos lugares o esgoto eh a ceu aberto.

2.2.07

Lista

- terminar o relatório pendente
- cópia das chaves de casa para a amiga
- combinar como serão pagas as contas, com a irmã
- comprar shampoo, condicionador, hidratante, sabonete íntimo, pinça, cera, um lápis para os olhos, base de unhas
- comprar uma calça preta, mole e fresquinha
- e uma bata para viajar
- e era interessante não gastar o limite todo do cartão antes da viagem
- separar uns cds. POUCOS, hein?
- e livros
- levo toalha de banho? acho que não cabe nessa mala gigante...
- convencer meu pai que eu não vou morrer de malária necessariamente, é só uma possibilidade
- e que elefantes e leões não circulam pelas ruas da cidade por lá.

1.2.07

Minha gente, quando eu digo que essa vida é inédita. Porque na semana passada eu tava fazendo um trabalho freela, e pensando que não rolou aula até agora, caceta, o que eu vou fazer. E hoje, bom. A notícia é que eu vou pra Moçambique na próxima quarta-feira, e fico lá por uns dois meses.
É assim: rolou um convite, um trabalho de consultoria em pesquisa lá. Tudo muito rápido, super corrido, mas, nossa. Uma experiência e tanto. Tanto que eu nem imagino. E, confesso. Eu adoro essas coisas que nem imagino.
Claro que o momento de fazer isso é agora, correr mundo, correr perigo. E eu vou. Nem preciso dizer que sim, vou atualizar o blog. Porque se eu não tiver assunto em Moçambique, meus deuses, onde mais eu teria?
É isso. Sumo por uns dias, porque afinal, tem mala pra fazer e etc. e tal, e tal e coisa. Logo mais apareço.